Sala Estúdio do Teatro Municipal Campo Alegre, às 21h30.
As cerejas têm uma pele macia, carne e, dentro delas, algo parecido com um osso. O seu sumo é vermelho como sangue. Quando as tratamos da forma como, por vezes, alguns humanos tratam os outros, elas transformam-se em humanos ou, pelo menos, em objectos animados, que nos convidam a identificarmo-nos com eles. Inspirada por contos de fadas em que, por vezes, os objectos se tornam vivos e se tornam uma projecção das nossas fantasias e experiências, na performance Death is Certain, Eva Meyer-Keller fez das cerejas as suas protagonistas. Retiram-se os píncaros das cerejas, mas estas não são lavadas ou polidas. Em vez disso, estão a ser mortas. Eva trata disso manualmente, de um modo que transforma o quotidiano em algo brutal. O espectador é lembrado das mortes dos filmes mas também da realidade das execuções, como estas realmente acontecem: associações de experiências individuais e colectivas perante uma morte doce à mesa da cozinha.
Na sua performance, Eva Meyer-Keller corta, fragmenta e corta cerejas numa operação meticulosa, sujeitando-as a inúmeras formas de tormento. Os frutos são estilizados em objectos, e objectos do quotidiano tornam-se instrumentos de matança que o espectador é levado a associar a um cenário de tortura.
Meyer-Keller usa tachas, taças de plástico e alfinetes nas cerejas criando uma estrutura discursiva para este jogo de papéis de substituição. Ninguém consegue sentir-se seguro pois todos temos imagens concretas, na nossa memória – imagens de filmes, experiências, novos assuntos que acabam por emprestar significado a estas acções, dando vida às cerejas e usando chocolates como cemitério.
Produção: Eva Meyer-Keller
Interpretação: Sybille Müller
Com o apoio de: Vooruit Gent, Stuk Leuven
Agradecimentos: Alexandra Bachzetsis, Juan Dominguez, Mette Edwardsen, Cuqui Jerez, Martin Nachbar, Rico Repotente
Duração: 35 minutos
M/12